A Literatura é um oroboros. Sabe o que isso? Aquela serpente que morde a própria cauda e que significa a continuação dos ciclos da Vida e do Universo. Mas, neste caso, é um oroboros porque volta e meia ela emerge das páginas de livros e se intromete na Realidade. Ou será justamente o contrário? Ou, talvez, ainda, como uma gera a outra, são ambas parte de um todo maior e sem nome, que dialoga consigo mesmo.
Fui convidada à visitar a turma do EJA que estuda na Escola Nossa Senhora de Fátima de Porto Alegre. Até aí, tudo bem. O desafio foi chegar até lá, porque saindo da Protásio Alves, avenida conhecida da capital gaúcha, nos embrenhamos em um bairro que logo perdeu os contornos característicos das quadras costumeiras, e as ruas se enredaram num novelo de esquinas triangulares e estreitas passagens quase sem calçada. O táxi que tomei não tinha certeza de onde ir. Mas, por fim, chegamos à escola, como um Teseu que, tendo mergulhado no Labirinto, atinge o salão central sem ter dado nem com o famigerado Minotauro.
Pois é que os labirintos de hoje abrigam outras surpresas. E neste caso, me deparei com uma escola engajada em sua comunidade, convencida da importância de seu trabalho e disposta a ajudar as pessoas que anseiam por melhorar de vida. Encontrei-me com leitores interessadíssimos, que me entrevistaram para o programa da Voz 470, a rádio da escola, que gravou uma entrevista comigo e a colocou na internet; professores interessados e prontos para discutir literatura, produção, vida, soluções. Realistas, conscientes de que seu papel não é mudar o mundo, mas ajudar as pessoas a mudar a si mesmas. Deparei-me com uma produção literária dos próprios alunos, à partir de textos escritos em papel e que circulam na Internet, textos fortes e verdadeiros, pura Literatura, aquela que todo escritor sonha escrever, mas nem sempre consegue, habituados que estamos a nos preocupar mais com a forma do que com o conteúdo emocional que dá ao texto a verdadeira dimensão que ele precisa ter para tocar o coração e a alma das pessoas. E encontrei uma assistência interessada, educada, curiosa, que teve a capacidade de me emocionar profundamente, e me fazer crer que o Ser Humano é possível.
No Labirinto de Porto Alegre, não encontrei o Minotauro: encontrei Dédalo, o arquiteto do Labirinto, o ser humano capaz de construir seus próprios muros e, depois, de ignorá-los e ir além, até o horizonte, onde a liberdade e a Vida nos esperam.
O público que conferiu o bate papo, e produziu excelentes trabalhos em forma de textos e trabalhos de criatividade, à partir de contos e crônicas |
Final do bate papo |
A turma da rádio Voz 470, que gravou uma entrevista comigo e colocou na rede |
Nenhum comentário:
Postar um comentário